Há muitos anos, estamos vivendo uma aceleração forte nas nossas vivências. Por viver a era da transformação digital, somos constantemente impulsionados a aumentar a criação e o consumo de conteúdos nos mais diversos meios de comunicação.
A velocidade é a essência da era moderna, mas nossas vidas mais rápidas e frenéticas muitas vezes nos incomodam e nos deixam imaginando como devemos viver no mundo de hoje, provocaram Geoffrey Craig e Wendy Parkins, autores do livro “Slow Living”:
O slow content é um movimento voltado para o marketing de conteúdo que valoriza a diminuição da velocidade na produção de conteúdo.
A premissa é entregar para o público um conteúdo repleto de qualidade e valor, do início ao fim, e não apenas quantidade.
Para o slow content, a qualidade é superior a quantidade. Imagem: Reprodução/ iStock
Um dos primeiros materiais que temos acesso que falam sobre o movimento slow living é o livro “In Praise of Slowness: Challenging the Cult of Speed” de Carl Honoré, publicado em 2005. Lá, o autor já tecia críticas em relação à forma de vida acelerada que estávamos tomando.
Entretanto, tecnicamente, o movimento surge na Itália, na década de 80, com o slow food, termo que conhecemos até hoje ao buscar por um bom restaurante, indo totalmente na contramão do fast-food. Nesse caso, vemos o slow content vindo em direção oposta ao fast content que tanto vemos nas redes sociais.
O fast content é justamente essa aceleração durante a produção de conteúdos, que incentiva os creators a publicarem várias vezes por dia, aparecer nos stories, gravar vídeos, transmitirem lives e outras coisas que o ambiente digital permitir. Imagem: Reprodução/ iStock
Mas toda essa produção em massa se torna esgotante e insustentável, já que para se produzir um texto ou material de qualidade é necessário tempo e esforço.
Imagem: Reprodução/Domo Inc
O estudo “Os dados nunca dormem 10.0” publicado pela Domo, apontou os números de produção de conteúdo nas redes sociais, plataformas e aplicativos diversos a cada minuto do dia.
5,9 milhões de pessoas fazem pesquisas de buscas no Google, 66 mil fotos são compartilhadas por usuários no Instagram, 500 horas de vídeos são assistidas por usuários no YouTube e 443 mil indivíduos compram na Amazon, tudo isso e muito mais, a cada minuto.
Com a facilidade que é gerar e disponibilizar conteúdo digital, fomos inundados por diversos formatos de conteúdo, cada vez mais parecidos – cópias, adaptações, tudo falando sobre o mesmo tema, ao mesmo tempo e, na maioria das vezes, de forma vazia – o que torna desgastante e cansativo acompanhar esse alto volume de produção.
Por isso é importante refletir, se, dentro da sua estratégia e dos seus objetivos é possível criar com paixão e estratégia, mesmo que isso represente um fluxo menor de produção.
Para algumas pessoas, o slow living é um estilo de vida, um formato que permite que o piloto automático seja desligado e as decisões mais racionais sejam tomadas. Imagem: Reprodução/ iStock
Muitas vezes, vale a pena publicar um conteúdo eficaz e que consiga se conectar com o público, do que dois conteúdos que não conseguem alcançar os resultados esperados e foram apenas publicados para gerar volume.
Na era do excesso de informação queremos participar de tudo e saber de tudo, o que é humanamente impossível.
A ansiedade digital impulsionada pela síndrome de FOMO (fear of missing out), traduzida para o português como o “medo de ficar de fora”, nos faz acreditar que precisamos estar envolvidos em tudo que acontece.
Esse é um fenômeno de insegurança psicológica off-line que respinga em nossos comportamentos. Imagem: Reprodução/ iStock
Surge a necessidade de estar checando as redes sociais constantemente, a vontade de permanecer conectado o tempo todo para não perder nenhuma atualização.
Um ciclo vicioso se manifesta, em que o indivíduo passa a ter o celular sempre ao lado, independente da atividade que estiver fazendo. Ele está sempre disponível para o outro, está presente em todos os eventos e festas e vive sob a pressão de escolher “a melhor opção”.
Comportamentos que refletem em uma pessoa que não consegue realizar atividades relativamente simples e importantes, que procrastina, se enrola, não cumpre com seus prazos e não consegue se concentrar.
Toda essa aceleração, nos faz perder o que é realmente importante.
Por outro lado, a JOMO (Joy of missing out), traduzida como “alegria por ficar de fora”, é um comportamento que se opõe completamente à FOMO.
Sua premissa é valorizar a vivência fora do mundo tecnológico. Não que a partir de agora você tenha que se desfazer de suas redes sociais e viver como um eremita, mas é justamente esse prazer por não participar de tudo, é viver o real sem a pressão e a ansiedade das redes sociais, que norteia a JOMO.
É dar espaço para viver de maneira desacelerada, freando a ansiedade que ultrapassa o limite do que é normal e repensando conceitos que acreditamos serem estáticos. Imagem: Reprodução/iStock
Agora que você já conhece a proposta do slow content, diante desse cenário pode parecer difícil produzir conteúdos que cheguem até seu público, uma vez que sua atenção é disputada por diversos canais no meio do caminho.
Primeiro, precisamos entender que nenhuma plataforma entrega um conteúdo para 100% de sua base, seja qual for sua natureza – se texto, foto ou vídeo.
Segundo, esse material vai chegar a uma parte do público, e é aqui que o conteúdo lento pode te ajudar. Um material bem construído, robusto e que atende justamente as dores do seu público com certeza terá muito mais acessos do que um material raso que foi desenvolvido às pressas.
Esse é um dos passos para solidificar a presença do seu blog e se destacar em meio ao excesso de informações que estão na internet.
Além disso, ele também te auxilia a construir uma audiência que é engajada, se identifica com o seu conteúdo, é leal e apaixonada por sua marca. Imagem: Reprodução/ iStock
1. Desenvolva uma pauta pensada e planejada: não apenas baseada em concorrentes ou no que o público está falando no momento, mas algo que realmente fará a diferença no dia a dia de quem ver/ler.
2. Pesquise e estude sobre o que você busca entregar: saiba do que se trata, mas não utilize apenas blogs e posts de redes sociais para falar sobre eles. Busque conversar com especialistas, ler livros, jornais e revistas sobre a temática e desenvolver um background assertivo.
3. Entregue valor, experiências e aplicações práticas do assunto que você está oferecendo.
4. Não se fixe tanto nas regras do digital: se permita ser autêntico e se comunique de forma clara, mas que faça sentido para você também.
5. Gere conexão, ofereça propósito, profundidade: entregue algo que é impossível parar de consumir.
6. Não tenha pressa, nem se desespere para entregar dezenas de conteúdos semanais. Pense na qualidade e veja os resultados aparecerem.
Mais qualidade, menos quantidade
Sabe aquele ditado popular que diz que “a pressa é inimiga da perfeição”? No contexto acelerado em que vivemos, ele nunca fez tanto sentido. Um bom material exige curadoria, produção e muita revisão, e tudo isso leva tempo e esforço.
Mais profundidade, menos frases de efeito
O conteúdo lento preza pela profundidade, afinal, como se conectar com o seu público se você se mantiver sempre no raso? Fuja das frases prontas que são disseminadas pela web a fora.
O consumidor está sempre em movimento, por isso é preciso conhecê-lo muito bem, para ser um porta-voz de sucesso. Imagem: Reprodução/ iStock
Mais criatividade, menos modismos
Produções desaceleradas também requerem criatividade, para que o seu conteúdo não seja só mais um nesse mar de informações, mas sobretudo, requerem autenticidade.
Mais palavras que enriqueçam o conteúdo, menos termos simplistas
Um conteúdo produzido sob a ótica do slow content valoriza o uso de palavras que tragam mais robustez ao corpo do texto. Não um material marcado por termos que precisam do acompanhamento do dicionário ao lado, mas sim de termos poéticos e metafóricos que valorizem a escrita.
Mais beleza e ideias surpreendentes, menos pragmatismo
Esse tipo de conteúdo existe para mostrar que a internet também é um lugar onde você pode rir, chorar e se encantar e não apenas um ambiente marcado por likes, promoções e instruções.
No slow content também há espaço para que as emoções venham a tona, afinal, um conteúdo lento entende que só é possível se conectar com o internauta quando produzimos com o coração. Imagem: Reprodução/ iStock
Mais foco no propósito, menos foco no lucro
Construir uma marca que busca ter uma razão maior de existência pode ser bem positivo nesse aspecto. Tirando o foco do público nos lucros da empresa, como campanhas comerciais sem fim, e criando um elo de conexão, podemos gerar mais interesse e lealdade.
Mais liberdade nos formatos, menos dogmas sobre conteúdos curtos
Produzir sem a carga de ter um número de palavras pré-definidas. Isso é slow content: um texto não precisa ser maior nem menor do que o necessário, mas deve ser assertivo.
Mais cidadão, menos consumidor
Um conteúdo lento entende que cada indivíduo é um ser complexo e singular. Por isso, ele respeita o ritmo das pessoas e as vê como cidadãs, não como transações.
Mais do que números, o slow content olha para as pessoas como seres individuais e que possuem necessidades. Imagem: Reprodução/ iStock
Mais reflexão, menos rapidez
Gerando conexão e sendo assertivo, é importante focar em conteúdos mais reflexivos em relação à dúvidas rotineiras Ao invés de responder apenas o que todos questionam, é válido pensar naquilo que eles ainda não perguntaram em voz alta. Mostre prática e profundidade.
Mais tradição, menos convenção
A produção slow content une a tradição e o conhecimento do texto impresso à inovação do digital, mesclando o melhor dos dois mundos.
Obviamente isso não se aplica a todo tipo de conteúdo e mídia. Mas tudo isso deve ser colocado na balança e pensado para que um negócio possa realmente se conectar com o público, não só criar campanhas e mais campanhas. Imagem: Reprodução/ iStock
Conteúdos cada vez mais rápidos, usuários cada vez menos engajados e satisfeitos
Um dos principais alertas do slow content é sobre essa avalanche de conteúdos que recebemos e a velocidade que eles estão sendo feitos e consumidos. Cada vez mais conteúdos são produzidos e cada vez menos o público se sente satisfeito com eles.
Por isso, uma das grandes tendências de 2023 é o impulsionamento das mídias tradicionais como TV e rádio e o crescimento de outros meios como podcast e newsletter, por exemplo.