Lealdade de marca ou penetração de mercado: qual o melhor caminho?

Reter um cliente custa menos do que manter um novo, será mesmo? Descubra como reavivar a fidelidade de marca.

Ane Lima

em 3 de setembro de 2024

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    “Cliente fiel compra sempre da mesma marca!” Mas será mesmo? A ideia de que um cliente fiel é mais valioso do que um novo cliente pode te impedir de ampliar suas vendas.

    Hoje, construir e manter a lealdade de marca é uma tarefa cheia de desafios. Muitas vezes o que impede as empresas de possuírem clientes fiéis é o fato de que elas acreditam que existe conexão emocional, além da conexão transacional.

    Nesse texto abordaremos como as marcas podem superar esses desafios em meio a um cenário repleto de opções.

    Jovem com o carrinho comprando no hipermercado.

    A lealdade à marca está morrendo, mas isso não significa que ela não possa ser revivida. Imagem: Reprodução/ iStock

    Byron Sharp, através de seu livro “How Brands Grow”, argumenta, baseados em dados científicos, que a penetração de mercado e o ganho de novos clientes são mais determinantes para o crescimento das marcas do que a lealdade em si.

    Mas, como então, as marcas podem construir relações mais duradouras e saudáveis, em tempos em que a lealdade de marca anda tão volátil?

    O livro “How Brands Grow” de Byron Sharp é uma referência fundamental no campo do marketing e desafia muitas das noções tradicionais sobre a construção de marcas e lealdade.

    Capa do livro "How Brands Grow" e ao lado uma xícara de café e um fone de ouvido.

    Livro “How Brands Grow”, de Byron Sharp. Imagem: Reprodução/ Branding News

    A obra é baseada em evidências empíricas e propõe que, ao contrário da crença popular, a lealdade de marca é mais frágil do que se imagina, e que as marcas crescem principalmente ao atingir uma maior base de consumidores, e não apenas ao tentar aumentar a fidelidade dos consumidores existentes.

    Sharp comenta que marcas grandes são maiores porque possuem uma base maior de compradores, e se as marcas quiserem crescer, elas devem focar em penetração.

    Como as marcas podem melhorar sua lealdade de marca

    Alcance e penetração são cruciais

    Em vez de focar exclusivamente na lealdade de um pequeno grupo de consumidores, as marcas devem buscar alcançar o maior número possível de pessoas. Sharp argumenta que as marcas crescem ao aumentar sua penetração de mercado, ou seja, ao conquistar novos consumidores, mesmo que estes não sejam 100% fiéis.

    Memória e disponibilidade mental

    As marcas devem investir em estar mentalmente disponíveis, o que significa estar no topo da mente do consumidor no momento da compra. Isso envolve criar elementos distintivos e consistentes (como logotipos, cores, slogans) que tornem a marca facilmente reconhecível e lembrada.

    Idosa escaneando código de barras em garrafa de suco em supermercado.

    Lembrança de marca é uma das coisas que traz diferenciação para o seu negócio. Imagem: Reprodução/ iStock

    Distribuição omnipresente

    A disponibilidade física é tão importante quanto a mental. As marcas precisam estar disponíveis em diversos pontos de venda, tanto físicos quanto online, para que os consumidores possam comprá-las quando quiserem. Se a marca não estiver disponível no momento da compra, o consumidor facilmente escolherá outra.

    Evitar a exclusividade excessiva

    Ao contrário do que muitas vezes se pensa, Sharp defende que tentar segmentar excessivamente o mercado ou criar campanhas exclusivas para certos grupos pode ser prejudicial. As marcas devem buscar ser inclusivas e relevantes para o maior número possível de pessoas.

    Foto tirando do alto onde é possível ver pessoas andando em shopping.

    A ideia de que um cliente fiel é mais valioso do que um novo cliente pode te impedir de ampliar suas vendas. Imagem: Reprodução/ iStock

    Reconhecimento da realidade da lealdade

    Sharp mostra que a lealdade de marca é uma questão de probabilidade e não de compromisso. Os consumidores compram repetidamente as marcas que estão mais disponíveis e mentalmente presentes para eles, mas isso não significa que sejam fiéis no sentido tradicional. Portanto, as marcas devem focar em ser constantemente escolhidas e não necessariamente em criar “relacionamentos” profundos com os consumidores.

    Investir em comunicação de massa

    O autor argumenta que as campanhas de comunicação de massa são mais eficazes para construir uma marca, já que alcançam uma audiência maior e ajudam a construir tanto a disponibilidade mental quanto a física.

    O caminho da lealdade

    Em resumo, para construir relações mais duradouras e saudáveis em um cenário de lealdade volátil, as marcas devem focar em ser amplamente conhecidas e facilmente acessíveis, tanto mental quanto fisicamente, em vez de tentar criar um pequeno grupo de consumidores altamente fiéis.

    Equipe diversificada trabalhando em conjunto no espaço de coworking moderno.

    Isso implica em estratégias de marketing que priorizam alcance, penetração e consistência, usando comunicação de massa e evitando segmentações limitantes. Imagem: Reprodução/ iStock

    A promessa da lealdade é constantemente testada, e muitas vezes rompida. É claro que existem sim exceções e muitas marcas conseguem estabelecer um vínculo emocional com o consumidor.

    Esses casos podem resultar de uma experiência única ou produto único, como o que faz muitos consumidores irem ao Burguer King e não ao McDonald’s e vice-versa.

    Mas geralmente ela é resultado da inércia, ou seja, a falta de ofertas superiores por parte de outras empresas. Afinal, por mais que um produto seja muito bom, se você encontrar algo que o supere e com um valor que lhe traga mais benefícios, porque você hesitaria em comprá-lo? É um questionamento a se fazer.

    A lealdade de marca entre as gerações

    Se antes o consumidor estava acostumado a comprar por impulso, sem muita pesquisa e por influência de familiares e conhecidos, hoje o cenário é outro.

    Ao contrário das outras gerações, que eram mais fiéis por tradição e conveniências, a Geração Z – geração atual, está mais disposta a explorar novas possibilidades.

    Jovens à procura de bons negócios em brechós.

    A Geração Z é uma grande entusiasta da cultura do desapego e do compartilhamento. Imagem: Reprodução/ iStock

    Hoje, essa é uma mudança que pode ser observada, por exemplo, na forma como o consumidor avalia a experiência do cliente. O consumidor da Geração Z espera por esse atendimento mais “personalizado”, digamos assim.

    Além disso, os “nativos digitais” são grandes adeptos do apoio a marcas “menores” em detrimento das grandes marcas, sem muito apego ou exclusividade.

    O cliente como decisor

    Porém, apesar de a lealdade às marcas estar perdendo mercado, é importante focar na aquisição de novos clientes. Resta às empresas buscarem soluções e descobrirem como atender a essas novas expectativas.

    As marcas precisam olhar para os dados de retenção de seus clientes e encontrar uma forma de se reconectar com os consumidores da melhor forma e pelo aspecto mais sensível de todos: o preço.

    Mulher jovem olhando para o recibo da mercearia. Ela pensa se vale a pena manter sua lealdade marca a uma empresa ou comprar de quem vende mais barato.

    O preço de um produto é um dos grandes fatores levados em conta na hora de comprar, sobrepondo-se muitas vezes, sob a lealdade de marca. Imagem: Reprodução/ iStock

    Esse é um tipo de estratégia que leva em conta as dificuldades financeiras dos consumidores. E no final, tudo passa pelo crivo do cliente – ele é o decisor. Por isso, marcas que colocam o “cliente no centro” saem na frente.

    Algumas estratégias para ajudar a construir lealdade

    Marcas que já são muito antigas e não buscam estratégias para reter novos clientes correm o risco de sofrer o processo de blandificação – fenômeno em que algo se torna tão familiar, que deixa de se diferenciar e se destacar.

    Em um mercado cada vez mais saturado, é importante que as marcas não caiam na passividade excessiva e deixem de oferecer soluções personalizadas e inovadoras para o público.

    Imagem do jogo "Shopee bolhas", que fica dentro do aplicativo e incentiva os usuários a permanecerem lá e torcarem as moedas por prêmios.

    A lealdade de marca é influenciada sobretudo por fatores biológicos, como recompensas, memórias, experiências e interação social. Imagem: Reprodução/ Shopee

    A gamificação é uma dessas propostas que têm se mostrado eficaz, ao introduzir jogos com pontos que podem ser trocados por descontos, níveis de interação e recompensas.

    A Shopee, por exemplo, possui um sistema de premiações e jogos dentro de seu aplicativo, em que os usuários podem coletar moedas e trocá-las por descontos.

    Essa gamificação precisa ser implementada de forma eficiente, de modo que ela atue como um ativo e não uma distração, contribuindo para o objetivo maior.

    Também é importante trazer produtos e serviços que atendam as necessidades individuais de cada indivíduo, como por exemplo, acumular pontos por compras e descontos através de experiências exclusivas que fortaleçam o vínculo emocional com a marca.

    Um exemplo de sistema de vantagens é o Mastercard Surpreenda, que é um programa de benefícios e recompensas oferecido pela Mastercard para os portadores de seus cartões de crédito e débito.

    Cartões de crédito Mastercard sobre o teclado.

    A cada compra, independentemente do valor gasto, você ganha 1 ponto. Imagem: Reprodução/ iStock

    O funcionamento é simples e baseado na acumulação de pontos que podem ser trocados por vantagens e descontos em produtos e serviços. E após o acúmolo deles você pode trocá-los por benefícios, que incluem descontos e promoções especiais em uma variedade de parceiros.

    Outro ponto é dar ao cliente a chance de escolher como ele vai usar os benefícios ou pontos de recompensa, assim ele é colocado no centro da cadeia para decidir como irá interagir com a marca.

    As marcas precisam se lembrar constantemente que o cliente não tem valor apenas quando gasta excessivamente, mas em todos os momentos. 

    Só assim será possível integrá-lo ao universo da marca e construir e manter a lealdade do cliente em um cenário em que as antigas regras já não se aplicam mais.

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