O que são fluent devices e por que eles funcionam?

Saiba como dispositivos fluentes impactam a memória, reconhecimento de marca e a eficácia de campanhas publicitárias.

Ane Lima

em 12 de maio de 2025

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    Fluent devices” ou dispositivos fluentes são elementos criativos recorrentes usados em campanhas de marketing e publicidade para gerar reconhecimento, memorização e associação com uma marca ao longo do tempo.

    Esses dispositivos podem ser, por exemplo, personagens, como o Zé Gotinha ou o Ronald McDonald; frases ou slogans repetidos, como “Just Do It“, da Nike; estilos visuais ou sonoros consistentes, como o tom e estilo das propagandas da Apple.

     

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    O termo vem da ideia de “fluência cognitiva”, ou seja, quanto mais familiar um estímulo é, mais fácil ele é de processar, e mais positivo ele tende a ser percebido.

    Por que os fluent devices funcionam?

    Criam familiaridade com a marca

    O cérebro humano favorece o que já conhece, um princípio conhecido como processing fluency (fluência de processamento).

    Fluent devices, ao se repetirem com consistência, reduzem o esforço cognitivo do público para entender a mensagem.

    Essa familiaridade cria uma zona de conforto emocional e aumenta a chance de atenção, reconhecimento e memorização da marca.

    Retrato de jovem focada escolhendo comida congelada. Os fluent devices ajudam a escolher e identificar com mais eficácia.

    A consistência ajuda a ligar pontos dispersos em ambientes de mídia fragmentados, mantendo a unidade da marca. Imagem: Reprodução/ iStock

    Segundo Daniel Kahneman, no livro “Thinking, Fast and Slow“, quanto mais fluida é uma informação, mais confiável e verdadeira ela parece para o cérebro.

    Geram conexões emocionais ao longo do tempo

    Os fluent devices atuam como personagens de uma série de TV: quanto mais você os vê, mais se apega emocionalmente.

    Eles permitem contar histórias contínuas, criando empatia e memórias afetivas ligadas à marca.

    Essa repetição narrativa reforça valores e personalidade de marca, especialmente quando há humor, emoção ou identificação.

    Aumentam a eficácia dos anúncios

    Segundo estudos da System1, campanhas com fluent devices tendem a ter um desempenho significativamente melhor em métricas de longo prazo, como crescimento de marca e vendas.

    Anúncios com fluent devices têm 10x mais chance de obter pontuações máximas em testes de impacto emocional.

    Mulher nova escolhe tênis em loja de sapatos.

    Os dispositivos fluentes permitem variação dentro da familiaridade. Imagem: Reprodução/ iStock

    Eles também têm média de 34% a mais de eficácia de longo prazo, em métricas como crescimento de marca e ganho de participação de mercado.

    Além de aumentarem a probabilidade de gerar estruturas de memória de longo prazo, fundamentais para decisões de compra futuras.

    Quer ver exemplos famosos de fluent devices brasileiros ou internacionais?

    Um dos exemplos mais clássicos é o “Garoto Bombril”, vivido por Carlos Moreno em mais de 300 comerciais da marca ao longo de 30 anos. 

    Esse personagem funcionava como um dispositivo fluente porque:

    • Aparecia repetidamente, gerando reconhecimento instantâneo;
    • Comunicava o tom da marca de forma clara e consistente;
    • Estabelecia um vínculo emocional e de confiança com o público.

    Outros exemplos famosos:

    “Itaú. Feito para você.” – slogan repetido com consistência.

    O coelhinho da Duracell, personagem persistente, sempre associado à ideia de durabilidade.

    Qual é a diferença entre os dispositivos fluentes e os dispositivos distintivos de marca?

    Apesar de parecerem semelhantes, fluent devices e dispositivos distintivos de marca são conceitos diferentes no branding e na publicidade, mas que muitas vezes se complementam.

    Os dispositivos distintivos de uma marca são sinais sensoriais únicos que ajudam o consumidor a identificá-la instantaneamente, sem precisar ver seu nome. Eles funcionam como atalhos mentais.

    Você vê uma cor, ouve um som ou reconhece uma forma e automaticamente associa à marca, mesmo que ela não esteja “falando” com você no momento.

    Garrafa clássica de Coca-Cola no fundo branco com geada.

    Silhueta da garrafa da Coca-Cola, um exemplo de ativo de marca. Imagem: Reprodução/ iStock

    Como por exemplo o contorno da garrafa da Coca-Cola, o “tudum” da Netflix, as cores vermelho e amarelo do McDonald’s.

    Já os fluent devices são personagens, slogans ou histórias recorrentes usados ao longo do tempo em diferentes campanhas da marca.

    A função é criar uma narrativa contínua, com consistência e familiaridade, que engaje emocionalmente o público.

    Eles facilitam o processamento da mensagem publicitária porque o público já conhece o “formato” ou o “personagem”. Isso aumenta a fluência (daí o nome), ou seja, a facilidade com que a mensagem é compreendida e lembrada.

    Alguns exemplos são os de personagens fixos, slogans repetidos em diferentes contextos, e situações cômicas ou dramáticas que se repetem com variações.

    Uma marca forte e memorável pode usar ambos, ao mesmo tempo.

    A Lu do Magalu, por exemplo, é um ativo de marca e também dispositivo fluente. A influenciadora digital da marca aparece em campanhas, redes sociais, vídeos de review, atendimento e até metaverso.

    Ela é o personagem contínuo que “conta a história da marca” ao longo do tempo. A Lu ajuda a humanizar e narrar, enquanto o estilo visual e os sinais sensoriais consolidam a marca mesmo fora do contexto dos comerciais.

    O que é migração fluente (fluent migration)?

    A migração fluente é quando uma marca atualiza ou transforma seu dispositivo fluente, como um personagem, slogan ou estilo sem perder a memória emocional e a familiaridade já construída. Ou seja, ela evolui o ativo criativo, mantendo sua essência.

    Por exemplo, a marca “Compare the Market”, no Reino Unido, usava o personagem “Aleksandr the Meerkat”, um suricato.

    Em vez de encerrar o personagem com o tempo, eles evoluíram sua história, lançaram novos contextos e até expandiram para produtos licenciados.

    Uma migração fluente bem-sucedida, porque manteve o reconhecimento do personagem, mas trouxe novidade e relevância.

    Por que a migração fluente importa?

    Ela permite que a marca inove sem perder o vínculo com o público, o que é essencial em um cenário de mudanças culturais rápidas, como as exigidas pela Geração Z, por exemplo.

    A Casas Bahia é outro exemplo de marca que atualizou seu dispositivo fluente, o Baianinhos 2D ao Baianinho gamer 3D.

    Antes o Baianinho era um mascote 2D animado, símbolo clássico da marca nos anos 90 e 2000.

    Então ele foi relançado como um personagem 3D gamer e digital influencer, adaptado ao universo da Gen Z.

    A figura do Baianinho foi mantida, mas reinterpretada para uma nova geração, com novo visual, voz e canais, como games e redes sociais. Afinal, a mera repetição não basta para criar um dispositivo fluente.

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