Creator Economy 2026: da era do hype à era da performance

A Creator Economy evoluiu de branding para infraestrutura de negócios. Veja dados, tendências e desafios.

Thamyris Santos

em 23 de dezembro de 2025

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    A Creator Economy atravessa um dos momentos mais decisivos desde sua consolidação como mercado.

    O crescimento acelerado do número de criadores, a entrada definitiva de grandes grupos econômicos, a pressão por resultados mensuráveis e o avanço do social commerce redesenharam completamente a lógica da influência digital.

    O que antes era percebido como uma extensão das estratégias de branding hoje opera como infraestrutura de negócios, com impacto direto em vendas, reputação e construção de ativos de mídia.

    Essa transformação marca a transição de uma economia baseada essencialmente em alcance e engajamento para um modelo orientado por performance, dados, governança e escala.

    Criadores passam a atuar como canais proprietários, marcas repensam seus investimentos e plataformas assumem papel central na intermediação entre conteúdo, consumo e monetização. Creator Economy

    Criadores passam a atuar como canais proprietários, marcas repensam seus investimentos e plataformas assumem papel central na intermediação entre conteúdo, consumo e monetização. Imagem: Reprodução/ Canva

    É nesse contexto que os dados mais recentes ajudam a dimensionar a maturidade, e os desafios, desse ecossistema. O relatório “Vem Aí na Creator Economy 2026” sistematiza esse movimento e revela que o marketing de influência deixou de ser apenas uma categoria de comunicação para se tornar um sistema complexo de negócios, cada vez mais integrado às estratégias centrais das empresas.

    Influência como infraestrutura estratégica de negócios

    O peso do marketing de influência dentro das empresas atingiu seu maior patamar histórico.

    Em 2025, 52% das marcas passaram a considerar a influência uma estratégia central de comunicação, um salto expressivo frente aos 31% registrados em 2017.

    No total, 82% das empresas classificam o marketing de influência como importante ou muito importante para seus resultados. Imagem: Reprodução/ Canva

    No total, 82% das empresas classificam o marketing de influência como importante ou muito importante para seus resultados. Imagem: Reprodução/ Canva

    Esse amadurecimento é acompanhado por grandes movimentações financeiras:

    O volume de fusões e aquisições (M&A) cresceu 72% em 2025, sinalizando consolidação do setor.

    A aquisição da BR Media pelo Publicis Groupe, estimada em R$ 550 milhões, incorporou um ecossistema de mais de 500 mil criadores e 500 marcas, marcando a entrada definitiva dos grandes grupos de publicidade na Creator Economy como infraestrutura de mídia.

    O Podpah investiu R$ 9 milhões em uma sede de 6.500 m², assumindo posição de TV digital nativa.

    A CazéTV arrecadou R$ 2 bilhões em patrocínios para a Copa do Mundo de 2026, atingindo potencial de receita comparável ao de grupos de mídia tradicionais.

    A influência deixou de ser apenas audiência: virou ativo estratégico, canal proprietário e plataforma de distribuição.

    Social commerce e a consolidação da “era dos afiliados”

    O ano de 2025 foi marcado pela integração definitiva entre conteúdo e conversão. O relatório define esse movimento como o “Ano dos Afiliados”, quando seguidores passam a atuar diretamente como compradores.

    O social commerce global movimentou US$ 1,16 trilhão em 2024, com previsão de crescimento médio anual de 36% até 2030.

    No Brasil, 55% dos consumidores já utilizam redes sociais como canal de compras, e 66% afirmam ter comprado ou testado novas marcas por indicação de influenciadores.

    O TikTok Shop registrou crescimento de 25 vezes no faturamento desde o lançamento no Brasil, vendendo mais de US$ 1 milhão por dia, com alta acumulada de 4.500% desde maio de 2025.

    Nos EUA, criadores já foram responsáveis por 20% das vendas online do Amazon Prime Day, reforçando o papel da influência como motor direto de vendas.

    O criador passa a operar como canal de venda, mídia e varejo ao mesmo tempo.

    Métricas, ROI e a crise da atenção

    Apesar do avanço financeiro, o mercado enfrenta gargalos estruturais na mensuração de resultados.

    53% das marcas apontam dificuldade em medir ROI como principal barreira.

    48% relatam problemas em comprovar a efetividade real dos influenciadores.

    Paradoxalmente, houve queda no investimento em tecnologia e ferramentas de mensuração, de 54% para 48% do budget dos anunciantes.

    O engajamento orgânico no Instagram caiu 28% em apenas um ano, enquanto 71% do público declara cansaço do excesso de publicidade feita por influenciadores.

    Esse cenário impulsiona a migração de conteúdos rápidos e repetitivos para estratégias de Slow Content, narrativas mais profundas e formatos que gerem vínculo, retenção e valor de marca no longo prazo. Imagem: Reprodução/ Canva

    Esse cenário impulsiona a migração de conteúdos rápidos e repetitivos para estratégias de Slow Content, narrativas mais profundas e formatos que gerem vínculo, retenção e valor de marca no longo prazo. Imagem: Reprodução/ Canva

    O criador brasileiro: escala, renda e diversificação

    O Brasil possui uma das maiores bases de criadores do mundo, mas a profissionalização financeira ainda é desigual.

    Existem cerca de 4,3 milhões de contas com mais de 10 mil seguidores no país.

    Apenas 230 mil no Instagram e 210 mil no TikTok superam a marca de 50 mil seguidores, evidenciando alta pulverização.

    A fintech Noodle processou mais de R$ 600 milhões em pagamentos para criadores em 2025, com ticket médio individual de R$ 3.629.

    O desafio está no fluxo de caixa: os prazos de pagamento das marcas variam entre 30 e 120 dias, pressionando a sustentabilidade financeira.

    Nesse contexto, a diversificação de fontes de renda (afiliados, produtos próprios, licenciamento de IP, assinaturas e participação em receita) deixou de ser diferencial e passou a ser condição de sobrevivência.

    Educação, reputação e autoridade real

    O mercado também migra do hype para a credibilidade.

    Conteúdos sobre cursos e mentorias cresceram 93% no TikTok entre 2024 e 2025.

    Na decisão de contratação, as marcas agora priorizam:

                    · Reputação: 51%

                    · Criatividade: 46%

                    · Engajamento: 25%

                    · Conversão direta: 23%

    Autoridade, histórico e alinhamento ético ganham mais peso do que métricas isoladas. Imagem: Reprodução/ Canva

    Autoridade, histórico e alinhamento ético ganham mais peso do que métricas isoladas. Imagem: Reprodução/ Canva

    Novos formatos, IPs e economia narrativa

    A busca por retenção e recorrência impulsionou formatos seriados e narrativos.

    O mercado de micro-dramas na China cresceu de US$ 500 milhões para US$ 7 bilhões em apenas três anos.

    No Brasil, a ReelShort alcançou 250 milhões de visualizações em menos de um mês, enquanto o Kwai registrou crescimento de 42 bilhões para 60 bilhões de visualizações nesse formato em um ano.

    Criadores passam a atuar como donos de propriedade intelectual, não apenas produtores de conteúdo avulso.

    Influência política, regulação e PL do Streaming

    A influência tornou-se também um vetor de poder social e institucional.

    67% da Geração Z consome notícias via criadores de conteúdo, deslocando o papel da mídia tradicional.

    Nas eleições de 2022, 45% dos criadores sofreram ataques ou hate ao se posicionarem politicamente.

    O governo federal enxerga os influenciadores como:

                    · Agentes de comunicação pública (41%)

                    · Alvos de responsabilização jurídica (21%)

    A PL do Streaming tende a impactar financeiramente o setor ao:

    Criar obrigações de contribuição e compliance para plataformas;

    Estimular maior formalização fiscal dos criadores;

    Favorecer players estruturados e criadores com CNPJ, equipe e governança.

    Isso pode aumentar barreiras de entrada, mas também trazer mais previsibilidade e proteção jurídica no médio prazo. Imagem: Reprodução/ Canva

    Isso pode aumentar barreiras de entrada, mas também trazer mais previsibilidade e proteção jurídica no médio prazo. Imagem: Reprodução/ Canva

    Da atenção à infraestrutura

    Se antes o mercado de influência funcionava como uma feira livre, onde o barulho e o engajamento determinavam o sucesso, em 2026 ele se assemelha a um centro financeiro de alta tecnologia.

    Agora, não basta audiência. É preciso:

    Infraestrutura de dados

    Modelos claros de monetização

    Diversificação de receita

    Governança ética

    Capacidade real de conversão

    A Creator Economy entra definitivamente na era da performance, onde influência é menos sobre visibilidade e mais sobre resultado sustentável.

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