O patrocínio no futebol funciona? Veja o que pesa

Você lembra da Batavo no Corinthians? Veja por que alguns patrocínios no futebol ficam na memória e outros não.

Ane Lima

em 7 de maio de 2025

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    O patrocínio no futebol tornou-se, há muito tempo, uma das estratégias mais famosas para atingir a população em massa.

    Estar na camisa de um grande clube, ou nos intervalos comerciais de um grande clássico parece, no primeiro momento, garantia de visibilidade, alcance e afinidade.

    Afinal, poucas coisas mobilizam tanta emoção no país quanto o futebol.

    O mito da saturação e a busca por relevância

    Mas o espaço por um lugar ao sol nas camisas dos times de futebol anda cada vez mais saturado. Com cada vez mais marcas disputando essa atenção, será que ainda vale a pena? E quais os tipos de patrocínio que realmente funcionam?

    Times jogam, torcida comemora vitória enquanto acompanha o patrocínio no futebol.

    A pesquisa analisou mais de 250 marcas e incluiu dados demográficos dos entrevistados. Imagem: Reprodução/ iStock

    Um estudo realizado pela ILUMEO discute a mensuração do Retorno sobre o Investimento (ROI) em patrocínios esportivos, especificamente no futebol masculino.

    Ele aponta que os torcedores se lembram de poucos patrocinadores, com o patrocinador máster e o fornecedor de equipamentos sendo os mais proeminentes.

    O estudo destaca a importância de ir além da exposição para entender o impacto real nos torcedores, sugerindo que a consistência de patrocínio no futebol aumenta a lembrança.

    E é exatamente nisso que vamos mergulhar agora para descobrir como o tipo e a visibilidade do patrocínio influenciam a lembrança do torcedor.

    Homens jovens assistindo jogo de futebol na TV

    A pesquisa analisou mais de 250 marcas e incluiu dados demográficos dos entrevistados. Imagem: Reprodução/ iStock

    Legenda: A natureza e histórico do patrocínio influenciam significativamente a lembrança dos torcedores. Imagem: Reprodução/ 

    Patrocinar é fácil. Ser lembrado, nem tanto

    Em média, os torcedores se lembram de menos da metade dos patrocinadores do seu time. 

    Enquanto os clubes da série A tinham em média 6,6 patrocinadores somente no uniforme em 2024, os torcedores se lembravam de apenas 3,1 marcas em média em lembrança espontânea. Isso sugere que a lembrança é limitada e seletiva.

    As primeiras posições na mente dos torcedores são claramente dominadas pelos patrocinadores máster e pelos fornecedores de equipamento esportivo.

    Exemplo de patrocínio no futebol na camisa do Inter.

    Estar na camisa do time é só o começo. O desafio é ser lembrado. Imagem: Reprodução/ Resistência Colorada

    O patrocinador Máster foi citado por 51% dos respondentes ao serem perguntados sobre as marcas que patrocinam seu time. Já o fornecedor de equipamento esportivo foi citado por 40% dos respondentes.

    Os “demais patrocinadores” lutam por uma vaga na terceira colocação em termos de lembrança pelos consumidores.

    Não basta estar na camisa. Tem que fazer parte da história

    Patrocinadores consistentes, que apoiam os times e campeonatos por muitos anos, são muito lembrados pelos espectadores. Essas associações tendem a perdurar mesmo após o término do período de patrocínio.

    Para times com maior torcida, a terceira colocação na lembrança muitas vezes é ocupada por patrocinadores que já foram máster no passado.

    Os torcedores também se lembram de patrocinadores anteriores dos times, bem como de patrocinadores de campeonatos e transmissões que assistiram, embora a porcentagem de lembrança possa variar.

    Um exemplo disso é a Batavo. Quem não lembra da marca que foi patrocinadora máster do Corinthians em um momento bastante marcante? Entre 2009 e 2010, justamente na volta do Ronaldo Fenômeno ao futebol brasileiro.

    Doi jogadores do Corinthians com a camisa da Batavo, patrocinadora máster na época.

    Há espaço para todo mundo no uniforme, mas só os relevantes ficam na memória. Imagem: Reprodução/ Corinthians

    A parceria rendeu grande visibilidade para a marca, já que coincidiu com uma fase de bastante atenção midiática e títulos importantes, como o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil de 2009.

    Essa associação gerou um forte vínculo emocional com a torcida, tanto pela fase vitoriosa quanto pela presença de um ídolo nacional.

    A Batavo não ficou apenas no uniforme, mas investiu também em ativações e campanhas publicitárias envolvendo os jogadores, o que ampliou a lembrança de marca naquele período.

    Ronaldo Fenômeno utilizando o uniforme da batavo, um patrocínio no futebol.

    A lembrança dos patrocinadores vai além da simples exposição, sendo crucial entender o que de fato impacta os torcedores. Imagem: Reprodução/ Corinthians

    Como o patrocínio no futebol impacta o funil de marca em diferentes públicos-alvo?

    O patrocínio no futebol impacta o funil de marca de diferentes formas, dependendo do público-alvo (torcedores versus não torcedores) e do tamanho (nível de reconhecimento) da marca patrocinadora.

    Ou seja, o impacto varia de acordo com o tamanho da marca.

    Ao comparar o impacto no funil de marca entre torcedores e não torcedores, observa-se o seguinte:

    • Para marcas pouco conhecidas, os ganhos tendem a ser maiores no topo do funil.
    • Para marcas consolidadas, os ganhos são maiores no meio/fundo do funil.
    Uniforme do grêmio com seus patrocinadores.

    O risco do patrocínio no futebol não é a rivalidade, mas a irrelevância. Imagem: Reprodução/ GZH

    O funil de marca mencionado inclui etapas como “conhece”, “conhece bem”, “gosta”, “considera” e “é cliente”, e o impacto do patrocínio nesses diferentes estágios é comparado entre torcedores e não torcedores.

    Será que ainda vale a pena patrocinar futebol?

    O patrocínio no futebol continua sendo uma vitrine poderosa para marcas. Estar presente nas camisas, nas placas ou nas transmissões garante visibilidade e aproximação com a cultura popular. 

    Mas, com o espaço cada vez mais concorrido, surgem os questionamentos: há saturação demais? E a rivalidade entre torcidas, não gera rejeição?

    A resposta, é que esses dois fatores são menos ameaçadores do que parecem.

    Camisa do Fluminense com patrocinadores, um exemplo de patrocínio no futebol.

    Não é só sobre ver a marca, mas sentir que ela faz parte da torcida. Imagem: Reprodução/ Fluminense

    A saturação de marcas nos uniformes é percebida com naturalidade pela maioria dos torcedores, 60% não se incomodam com o volume de patrocinadores.

    O que importa, de fato, é se a marca consegue se destacar dentro desse ecossistema. O risco real não está na quantidade, mas na irrelevância.

    Outro mito derrubado: a rejeição por rivalidade. Apesar da paixão intensa no futebol, a maioria dos torcedores não rompe com marcas que passam a patrocinar clubes rivais. 

    Cinco homens com a camiseta do Botafogo e seus respectivos patrocinadores.

    Mesmo entre os fanáticos, o vínculo com a marca tende a se manter, especialmente se ela já faz parte do cotidiano do consumidor. Imagem: Reprodução/ Estadão

    O que realmente ameaça o retorno de um patrocínio é ser ignorado. A maioria das marcas presentes nos uniformes sequer é lembrada espontaneamente pelos torcedores.

    E mesmo os patrocinadores máster, com alto grau de exposição, não alcançam níveis satisfatórios de lembrança e compreensão. Visibilidade sem ativação vira paisagem.

    Então, o que faz um patrocínio dar certo?

    Tempo e envolvimento real

    Marcas como BMG e FAM, que foram além do logo e criaram produtos, experiências e campanhas direcionadas, seguem fortes na memória mesmo após perder protagonismo no uniforme.

    Leila Pereira segurando a camisa do Palmeiras com o patrocínio no futebol da FAM.

    Patrocinadores consistentes, que apoiam os times/campeonatos por muitos anos, realmente são muito lembrados pelos espectadores. Imagem: Reprodução/ MKT Esportivo

    Longevidade

    Patrocínios duradouros criam memória afetiva. Parmalat, Kalunga, LG e Petrobras não estão mais presentes, mas ainda vivem na lembrança dos torcedores, porque fizeram parte de fases marcantes da história dos clubes.

    Ativação inteligente

    Estar presente não basta. Betano e Sicredi mostram que ativar com frequência, narrativas claras e mídia relevante transforma exposição em afinidade e preferência.

    Alinhamento com os objetivos da marca

    Marcas emergentes ganham awareness, como a Ezze Seguros. Marcas já conhecidas, como a Shopee, avançam em consideração e conversão.

    O importante é saber onde se quer chegar e adaptar a estratégia de patrocínio no futebol para isso.

     

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    Para resumir, o maior risco do patrocínio esportivo não é a concorrência ou a rejeição, é ser irrelevante.

    Patrocinar futebol ainda funciona, mas só funciona bem para quem entende que esse território exige mais do que presença, exige: intenção, consistência e conexão emocional.

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