O poder da curadoria: algoritmos, inteligência artificial e a personalização do consumo

Como a curadoria algorítmica influencia seu feed, suas decisões e até sua criatividade? Entenda os riscos e possibilidades.

Agência Hugz Thaís Dreveck

Conteúdo produzido em parceria com

Agência Hugz e Thaís Dreveck

em 9 de julho de 2025

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    Que a inteligência artificial está mudando o mercado, você já sabe. Inclusive, deve ter visto isso em nossa última série de conteúdos sobre o tema (se não viu, por favor, aproveite que está incrível). Quando falamos de construção e curadoria de conteúdos então, a discussão é muito mais longa.

    Afinal, todos os dias, somos impactados por conteúdos que não escolhemos conscientemente. Podemos achar que sim, mas já faz muito tempo que os modelos que aprendem nossos hábitos e preferências (o famoso algoritmo), já nos guia por aquilo que gostamos ou desgostamos.

    Multiexposição de desenho gráfico abstrato com as mãos digitando no teclado do computador em fundo, o que representa o poder da curadoria que o algortimo entrega.

    A curadoria algorítmica é o processo automatizado de seleção de conteúdos com base nos dados do usuário. Imagem: Reprodução/ iStock

    Pode ser a playlist que o Spotify sugeriu, ou o aleatório mágico que mostra músicas parecidas. Pode ser o filme que a Netflix te indica depois de terminar uma série dizendo que “você pode gostar”. Pode ser aquele vídeo que apareceu do nada no seu feed, mas que te entretém, e pode também ser aquele produto “perfeito” que você nem sabia que existia. 

    Por trás de tudo isso temos algo: a curadoria algorítmica.

    O algoritmo como curador invisível

    Em conceito, os algoritmos são conjuntos de instruções que processam dados para oferecer resultados personalizados.

    Diferentes empresas utilizam esses sistemas para analisar comportamentos e sugerir produtos ou conteúdos alinhados aos interesses do usuário. Seu objetivo principal? Buscar uma personalização para melhorar a  experiência do consumidor, aumentando a satisfação e o engajamento.​

    Mãos seguram um celular e digitam algo nele, de forma que não é possível o que é.

    Os algoritmos funcionam como filtros que priorizam conteúdos de maior relevância segundo padrões de comportamento. Imagem: Reprodução/ iStock

    No entanto, essa curadoria algorítmica pode limitar a diversidade de informações acessadas, criando um ambiente onde o usuário é exposto apenas a conteúdos que reforçam suas preferências existentes.

    Esse fenômeno é conhecido como “filtro bolha”, onde a exposição a diferentes perspectivas é reduzida, potencialmente afetando a formação de opiniões e decisões.​

    Eu particularmente já vivi algo nesse sentido, alterando alguns hobbies e interesses, mas mesmo assim, continuava com recomendações dos antigos. Isso me fez perceber como nossos gostos podem ser engessados por sistemas que “aprendem” com quem éramos, e não necessariamente com quem estamos nos tornando.

    É como se os algoritmos dissessem:  “Você gostava disso, então provavelmente vai continuar gostando.”  Mas… e se a gente mudar?

    Homem pensativo novo que olha o telefone móvel.

    Diferente da recomendação tradicional, ela produz, não apenas sugere. Imagem: Reprodução/ iStock

    Essa falta de atualização (ou de abertura para o novo) não é um bug, bem pelo contrário. É o algoritmo fazendo exatamente o que foi programado para fazer: nos manter no que é confortável, previsível e seguro.  Só que isso pode ser o oposto do que a criatividade e o crescimento pessoal precisam.

    Precisamos compreender que quando falamos desse consumo, curadoria é diferente de repetição. Enquanto uma boa curadoria amplia horizontes, a curadoria algorítmica tende a estreitar. E no universo das marcas, esse comportamento também se reflete, principalmente quando criamos conteúdo baseado apenas no que performou bem antes, caímos no mesmo ciclo.

    A pergunta que fica é: estamos criando com base em pessoas reais e em constante mudança ou apenas alimentando algoritmos desatualizados sobre quem elas foram?

    IA generativa e o futuro das recomendações personalizadas

    Imagens, textos, planos, estratégias, slides, vídeos… Hoje parece que podemos criar qualquer coisa que possamos imaginar com a IA. O Chat GPT se tornou nosso melhor amigo e confidente, até para discussões filosóficas e provocações terapêuticas já existem usos. Mas além de trends engraçadinhas e toda a discussão ética, a IA vem se fazendo cada vez mais presente no nosso dia a dia com a curadoria de conteúdos e recomendações personalizadas.

    Você já teve a sensação de que um conteúdo foi feito exatamente para você? Talvez aquela playlist perfeita para o seu humor, uma recomendação de produto que você nem sabia que queria, ou um vídeo que pareceu ler seus pensamentos.

    Adolescente branca caucasiana, tendo uma chamada de vídeo com seu computador.

    A repetição de padrões anteriores pode limitar a descoberta de novos interesses. Imagem: Reprodução/ iStock

    Se buscarmos entender mais, compreendemos que a inteligência artificial generativa é uma tecnologia que utiliza modelos avançados para criar novos conteúdos, como textos, imagens e vídeos, com base em padrões aprendidos a partir de grandes volumes de dados.

    Diferentemente dos sistemas de recomendação tradicionais, que sugerem itens existentes com base em comportamentos passados, a IA generativa pode produzir conteúdos inéditos que se alinham às preferências e necessidades específicas de cada usuário.​

    Homem branco e barbado com camisa verde segurando celular na mão.

    O algoritmo tem como objetivo manter o usuário engajado, mesmo que isso signifique oferecer mais do mesmo. Imagem: Reprodução/ iStock

    Não estamos mais apenas consumindo conteúdos personalizados. Estamos vivendo experiências únicas, moldadas em tempo real para se adaptarem a cada um de nós. E é claro, os benefícios dessa tecnologia são simplesmente impressionantes, veja só:

    • Criação de conteúdo (independente do formato) de acordo com suas preferências;
    • Antecipação de desejos (ela pode PREVER o que você vai querer);
    • Melhoria da experiência como um todo, com interações mais fluídas, relevantes e cativantes; 
    • Fidelização natural, afinal, quando uma plataforma te entende, por que você sairia dela?

    Com esse nível de personalização, a IA generativa não apenas entrega valor, ela cria conexão. E isso muda completamente a lógica do consumo digital.

    Estamos deixando de ser apenas usuários para nos tornarmos centros de universos digitais sob demanda, onde tudo gira ao redor do nosso comportamento, emoções e microdecisões. Mas aqui entra o grande ponto de virada: se tudo é feito para você, até que ponto ainda é você quem escolhe?

    Mulher elegante do proprietário da empresa no escritório verde usando o smartphone.

    Quanto maior a personalização, maior o desafio de garantir diversidade e pluralidade. Imagem: Reprodução/ iStock

    A tecnologia é fascinante, sim, mas também é sutil. Quando tudo parece tão personalizado, é fácil esquecer que ainda estamos sendo guiados por dados, por padrões, por interesses que nem sempre são nossos. Essa nova era da personalização traz um poder enorme para marcas e plataformas, que agora podem se tornar quase invisíveis no processo de decisão do consumidor. E é aí que mora o desafio ético.

    Como manter a autenticidade em um mundo onde tudo pode ser gerado artificialmente para te agradar? Como garantir que a experiência seja personalizada, mas também plural, diversa e humana?

    A resposta não está apenas na tecnologia, mas em como a usamos.

    Porque no final do dia, a IA generativa é uma ferramenta. Cabe a nós decidir se vamos usá-la para repetir padrões ou para ampliar horizontes, surpreender e inspirar de verdade.

    O dilema entre conveniência e a criação de bolhas de conteúdo

    A era digital nos oferece conveniência como nunca antes.

    Do entretenimento ao consumo de notícias, tudo pode ser adaptado ao nosso perfil com uma precisão quase cirúrgica. Afinal, quem não quer um feed sob medida, repleto de conteúdos que conversam diretamente com seus gostos, crenças e interesses?

    Jovem usando um tablet digital em casa.

    Consumir fora da bolha exige esforço intencional e consciência digital. Imagem: Reprodução/ iStock

    Mas é justamente aí que mora o perigo. A personalização, quando levada ao extremo, nos coloca em bolhas invisíveis de conforto e confirmação. Isso cria um ambiente onde o novo deixa de chegar, onde o contraditório desaparece, e começamos a acreditar que o mundo inteiro pensa igual a nós, o que não é verdade, mas parece reconfortante.

    O termo filtro bolha foi popularizado por Eli Pariser, ativista digital e autor do livro The Filter Bubble: What the Internet Is Hiding from You. Ele define o conceito como:

    “Sua bolha de filtros é o seu próprio universo pessoal e único de informações em que você vive online. O que está na sua bolha de filtros depende de quem você é e do que você faz. Mas você não decide o que entra e, mais importante, você não vê o que é removido.”

    Isso significa que, mesmo sem censura explícita, os algoritmos limitam o alcance de pontos de vista diferentes, simplesmente por não os considerarem relevantes para o seu perfil. E o problema não está apenas na falta de diversidade, mas na ilusão de pluralidade: achamos que estamos informados, quando na verdade estamos vendo mais do mesmo.

    Tablet, escritório e mulher negra no negócio à noite para pesquisar.

    A personalização extrema pode reforçar vieses cognitivos e reduzir o pensamento crítico. Imagem: Reprodução/ iStock

    A solução para esse dilema não é rejeitar a tecnologia. Afinal, a tecnologia não é uma vilã, é uma amiga. Ser contra os algoritmos é tão improdutivo quanto ser cego a eles. O verdadeiro desafio está em como usamos essas ferramentas e principalmente, em como cobramos que elas sejam mais transparentes e éticas.

    Como usuários, podemos fazer diversas ações para tornar a nossa biblioteca mental ainda mais poderosa, incluindo: 

    • Diversificar nossas fontes de informação (e não depender só do que aparece no feed);
    • Consumir conteúdos de fora da nossa bolha, intencionalmente;
    • Questionar o que nos é apresentado como verdade;
    • Desligar as recomendações automáticas de tempos em tempos;
    • Apoiar plataformas que priorizem qualidade e pluralidade;
    • Consumir de curadores especializados e capacitados (inclusive, aproveite para seguir o @midia.market e a @hgzbranding no instagram).

    Além disso, é papel dos reguladores e desenvolvedores garantir que os sistemas de IA e curadoria de conteúdo não promovam a polarização ou reforcem discriminações.

    Três jovens asiáticas da Geração Z usando um smartphone para fazer compras online no sofá.

    A transparência algorítmica é um dos maiores desafios da era digital. Imagem: Reprodução/ iStock

    Afinal, os algoritmos e a IA transformaram a maneira como consumimos informações e produtos, oferecendo experiências personalizadas que atendem às nossas preferências. No entanto, é essencial estar ciente dos riscos associados, como a formação de bolhas de conteúdo e a exposição limitada a diferentes perspectivas. Adotar uma abordagem consciente e crítica ao interagir com conteúdos digitais pode ajudar a mitigar esses efeitos, promovendo uma experiência de consumo mais equilibrada e informada.​

    Como disse Tim Berners-Lee, criador da World Wide Web:

    “A web deve servir à humanidade. Isso significa garantir que ela continue sendo uma ferramenta de empoderamento, e não de limitação.”

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