Como uma marca commodity vai além do produto?

As estratégias que transformam uma marca commodity em referência global, indo de produtos básicos a experiências únicas.

Ane Lima

em 17 de dezembro de 2024

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    Já parou para pensar porque você compra o arroz X e não o Y? Ou porque o café de uma marca específica é o seu favorito? Mas afinal, no fim do dia, não é tudo arroz ou tudo café e só mudam as marcas?

    Isso pode ser o que muita gente pensa. E é em meio a esse cenário que o branding atua para transformar produtos considerados commodities, como o café, o arroz, ou o feijão que comemos, em bens diferenciados, criando valor percebido e conexão emocional com o consumidor.

    Bolsa cheia de especiarias e marca commodity em um mercado.

    No mundo do branding, até mesmo produtos básicos, como arroz ou milho, podem deixar de ser vistos como commodities e se tornar marcas reconhecidas. Imagem: Reprodução/ iStock

    Marcas que operam com commodities usam estratégias de branding para evitar a competição apenas pelo preço, destacando atributos como qualidade, propósito, origem e experiência.

    O que são commodities?

    Os commodities são produtos básicos, geralmente matérias-primas ou bens primários, que não possuem diferenciação significativa entre os fornecedores.

    Alguns exemplos incluem petróleo, café, soja, carne, milho, ouro e minério de ferro. E o preço das commodities é determinado principalmente pela oferta e demanda no mercado global.

    E uma marca commodity, o que é isso?

    Uma marca commodity é aquela que, apesar de atuar em um mercado de produtos básicos e padronizados, utiliza estratégias de branding para se diferenciar.

    Em vez de competir apenas pelo preço, ela busca construir uma identidade, fidelizar clientes e agregar valor ao produto. Um exemplo clássico é a Nespresso, que transformou o café (uma commodity) em uma experiência premium

     

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    Com um branding focado em qualidade, exclusividade e design, ela se posiciona além da imagem de commodity, agregando valor por meio de storytelling, inovação e parcerias estratégicas. A marca cria uma conexão emocional com o público, oferecendo não apenas café, mas um estilo de vida aspiracional.

    Uma marca commodity atua nesse cenário de baixa diferenciação, onde o produto parece comum e sem valor agregado.

    No entanto, algumas dessas marcas conseguem ir além, criando percepções de valor, conexões emocionais e fidelidade do consumidor. Elas se destacam ao provar que, mesmo em mercados homogêneos, é possível construir relevância e preferência.

     

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    Quando compramos, por exemplo, carne de marcas como Friboi ou Frisa, o consumidor paga mais pela confiança na qualidade e no desempenho do produto. Commodities, como o arroz, se tornam mais do que simples produtos quando recebem um nome, como o Arroz Tio João, alcançando assim um novo nível de diferenciação.

    Outro exemplo relevante é o do melão, uma fruta cuja escolha costuma ser difícil, já que muitas vezes é um pouco aguada. Com mudanças no processo de produção e a introdução de uma “embalagem” diferenciada, como a tradicional redinha vermelha com alça, acompanhada da mensagem “mais saboroso”, o Melão Rei conseguiu se destacar dos melões comuns.

     

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    Mas vale ressaltar que não adianta nada um produto possuir uma embalagem inovadora e se vender como de alta qualidade, se ele não representa isso.

    Ele realmente precisa ser um bom produto para o consumidor, afinal, todos esses ativos, tanto de embalagem, quanto de atributos, somados a algo que é proveitoso para quem compra será o determinador se esse é ou não um produto que vale a pena.

    Como se diferenciar e construir marcas commodities?

    Algumas marcas conseguem superar mercados de commodities homogêneos e técnicos e se tornar referências globais ao adotar estratégias que vão além do produto em si.

    Isso é possível por meio de um branding estratégico, inovador e uma conexão mais profunda com os consumidores. Mapeamos os principais fatores que permitem esse sucesso:  

    Conte uma história envolvente

    Marcas transformam características técnicas e padronizadas em algo aspiracional. Elas associam seus produtos a valores, experiências ou causas que ressoam com o público.  

    Frase "Don´t buy this jacket" e uma jaqueta jeans logo abaixo.

    Em português a frase quer dizer “não compre esta jaqueta”. Imagem: Reprodução/ Reddit

    A Patagônia, por exemplo, que atua em um mercado saturado, que é o de roupas, se destaca ao comunicar propósito ambiental e práticas sustentáveis desafiando o público a não comprar, criando uma identidade única e conectada ao estilo de vida de seu público.  

    Foque na experiência completa

    Marcas que superam commodities não apenas vendem produtos, mas criam experiências memoráveis ao redor deles. Isso inclui atendimento, personalização e inovação no consumo.  

    A Starbucks transformou o café em uma experiência premium ao oferecer um ambiente aconchegante e um atendimento mais pessoal, redefinindo a percepção do consumidor sobre algo tão comum.  

    Diferenciação visual e funcional

    Produtos tecnicamente semelhantes podem se destacar através de embalagens inovadoras, que atuam como pontos fora da curva, ou quem sabe por um design sofisticado, conferindo status e valor percebidos. 

    A estratégia de branding da Nestlé, por exemplo, foi muito eficiente ao usar a ilustração da “moça” na embalagem, criando uma identidade visual única e de fácil reconhecimento, já que a imagem traz essa sensação do tradicional, acolhedor e de qualidade, que ressoam fortemente com o público brasileiro e a consolidam como um forte ativo de marca.

     

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    Ao unir uma narrativa autêntica e um design estratégico, produtos commodities deixam de ser apenas itens funcionais e ganham uma personalidade de marca, construindo uma percepção mais emocional e valiosa frente à concorrência.

    Eleve o valor percebido

    As marcas apostam em diferenciais que vão além da funcionalidade, como qualidade superior, exclusividade ou inovação tecnológica, permitindo cobrar preços mais altos e fugir da competição baseada no preço.

    O Sal do Himalaia é um exemplo que ganhou status premium por meio de sua cor diferenciada e uma narrativa que associa o produto à saúde, pureza e bem-estar.

    Raw rosa sal do Himalaia.

    Com isso, elas justificam preços mais altos e conquistam uma posição de destaque em mercados saturados. Imagem: Reprodução/ iStock

    Marcas fortes criam valor emocional

    Ativos como confiança, consistência e reconhecimento global ajudam marcas a se destacarem em mercados técnicos e indiferenciáveis.  

    A Intel, por exemplo, que atua em um setor técnico de microprocessadores, tornou-se referência global com campanhas como Intel Inside” – selo de qualidade criado pela empresa para destacar que seus computadores utilizavam processadores da marca e não de seus concorrentes – transformando um componente que é invisível para o público, em sinônimo de qualidade e inovação.

    Adaptação e evolução

    Marcas inovadoras conseguem quebrar a percepção de padronização, seja por meio de novas tecnologias, práticas sustentáveis ou modelos de negócio disruptivos.

    A Tesla também é um exemplo de marca que revolucionou o mercado de carros elétricos, um setor altamente técnico, ao unir inovação, design futurista e uma narrativa de sustentabilidade e performance.  

     

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    Marcas que superam mercados de commodities homogêneos conseguem criar diferenciação não pelo produto em si, mas pela maneira como o produto é percebido.

    Elas constroem um posicionamento único ao conectar propósito, experiência, design e inovação, transformando o comum em extraordinário e conquistando reconhecimento global.

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